Enfado matinal

Não deveria admitir isso, mas as pessoas ultimamente têm me cansado demais. Pra que cumprimentar quem você não conhece??? Já não suporto andar de ônibus, ainda mais pela amanhã minutos após levantar da cama, com aquele meu humor ótimo... aí as pessoas resolvem te cumprimentar SÓ porque vocês pegam o mesmo ônibus, no mesmo horário todos os dias. O que quero dizer é que não sou anti-social (não muito), mas é que certas situações me afligem profundamente. Sei que um aceno com a cabeça ou um simples bom dia não mata ninguém, no entanto, sofro só de pensar que posso encontrar com aquela pessoa chata, que aquele bom dia pode se prolongar com um "há quanto tempo" e por aí vai. Isso faz com que eu me lembre de uma cena que ocorreu há alguns dias. Infelizmente, eu pego o maldito Vila Madalena todos os dias para ir à faculdade, no mesmo horário, com a mesma cara mal-humorada. E todo o dia um rapaz pega esse mesmo ônibus, vestido como rapper, com calças largas e se não me engano, sempre com fones de ouvido. Depois de descobrir muito por acaso que o tal moçoilo trabalha num banco lá na faculdade ele deu para me cumprimentar religiosamente todos os dias. Até aí tudo bem. O esforço não era tão grande e eu o cumprimentava todos os dias com a mesma cara mal-humorada de sempre. Numa bela manhã de sol, lembro-me que fazia calor pois arrumava minha saia o rapaz resolveu puxar conversa logo após descermos do ônibus. Primeiras palavras: "Amiga, qual o seu nome?". Penso comigo, ninguém merece isso logo de manhã. Respondo secamente: "Só falo o meu nome depois de saber o seu. Vai que você não tem um nome bonito!" (pouco mal-humor é bobagem). O rapaz responde prontamente: "Mas por que isso? Me chamo Rodrigo." Respondo: "Rodrigo é um nome normal. Me chamo Luana." Seguimos alguns passos conversando sobre coisas que desconhecidos conversam: tempo, o que faz da vida. Nos despedimos e não foi tão ruim, embora o indivíduo fosse chato. No dia seguinte, sucede a mesma coisa, o cumprimento, o papo enfadonho demais, o sarcasmo e ironia proferidos por mim não compreendidos. Houve um final de semana de descanso para os meus nervos que se afligem com a sociabilidade das pessoas. Terceiro encontro. Sento no banco logo após a catraca, preocupada com o papo enfadonho do rapaz. Finjo dormir, em vão pois não agüentava ficar com os olhos cerrados por muito tempo. Abro os olhos na hora errada, o rapaz está ali, na minha frente, passando na catraca. Finjo ter aberto os olhos apenas para me certificar de que não havia passado do ponto, ensaio um bocejo. Chego ao destino. Desço do ônibus e minha vida volta ao normal a partir daí. Retomo minha caminhada solitária e sobretudo silenciosa até a faculdade. Por enquanto não voltei a ver o rapaz.
mixordiado por Pequena Oti às sábado, novembro 04, 2006

2 Comente:
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Cintia disse...
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Também detesto cumprimentar desconhecidos. Uma vez eu estava em Visconde de Mauá fazendo uma caminhada e um fulano que nunca tinha visto antes me disse bom dia. Não respondi. Você acredita que o fulano veio atrás de mim falando "bom dia! bom dia!". Agora eu não lembro se finalmente respondi ou se ele desistiu, mas odeio gente que não respeita o meu direito de ser anti-social! :oP
- quarta-feira, novembro 08, 2006 5:54:00 AM
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Flávia Santos disse...
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esse texto me deu lágrimas. não usa roxo nesse fundo dói o olho até lacrimejar.hahahhahah. sério...
Eu como dizem meus amigos: sem educação, rabujenta, daquelas que nao dá oi nem pro melhor amigo se nao tiver afim...rssrsrrsr..
ps. roxo não..
bjus
- quarta-feira, novembro 08, 2006 10:06:00 PM
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.::Mixórdia: a quarta dimensão::.
Mixórdia - s.f. (sXVII cf. AGC) 1 mistura confusa de coisas variadas; mistifório, confusão, bagunça, barafunda 2 situação ou fato atrapalhado e conflituoso; embrulhada, desentendimento, atrapalhação
Quarta dimensão: Segundo Clarice Lispector, a palavra é a quarta dimensão.
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